..revisando as deste computer..
texto do Luis Fernando Veríssimo, estadão, massa..
Para-infernália. É pura implicância, eu sei. Mas tenho tanta antipatia por toda essa para-infernália eletrônica que, enquanto nos facilita a vida, nos escraviza e nos humilha que vibro a cada notícia de sua desmoralização, por menor que seja. Comemoro cada nova prova de que ela não é infalível. Agora mesmo surgiu um supercomputador, chamado Watson, que venceu dois humanos jogando Jeopardy na televisão americana. Jeopardy é um jogo de respostas que testa a memória e o conhecimento, e a capacidade do Watson de armazenar informação, reconhecer a informação que corresponde à pergunta e enunciá-la antes dos humanos representa um grande avanço sobre os computadores que, por exemplo, derrotavam campeões de xadrez, mas com os quais não se podia ter uma boa conversa sobre filmes, livros, a vida alheia, etc. O Watson não, o Watson sabe tudo. Leu tudo, viu tudo - mas (arrá!) tem uma falha. O Watson às vezes tem dificuldade em contextualizar. É o que seus construtores chamam de Síndrome de Paris Hilton. Se você alimentá-lo apenas com as palavras "Paris Hilton" o Watson se confunde, não sabe se a referência é ao hotel Hilton de Paris ou à herdeira maluquete dos Hilton, Paris. E é capaz de ficar mudo para não dar vexame. Um pequeno defeito para um computador, mas uma grande vitória para a humanidade. Eu não conseguiria vencer um computador nem num jogo de damas mas jamais confundiria a Paris Hilton com um hotel. Ou vice-versa.