gaudencio torquato, hoje.. trecho..
"A política, desde os anos 60, ganhou ares de espetáculo. Nos espaços circenses, a imagem dos atores é o que fica gravado na mente dos espectadores. Daí a observação de que a imagem se sobrepõe à verbalização do discurso.
O resultado é uma operação política - para usar expressão atual - terceirizada, pois os candidatos (produtos) são escolhidos pelas cúpulas ou principais lideranças (proprietários), depois de negociações, barganhas, jogo de recompensas (feira, mercado), e "vendidos" (expostos, apresentados) ao eleitor (comprador) pelos intermediários (partidos e meios de comunicação). A democracia direta, sob esse prisma, fica a ver navios. A consagração nas urnas passa, assim, por um sistema de filtros.
O neologismo pode parecer estranho, mas é realista: vive-se o ciclo da midiocracia, a democracia eleitoral engendrada nos laboratórios midiáticos. A inflexão entre midiocracia e mediocracia (a democracia que privilegia a mediocridade) se estabelece naturalmente. Forma-se a teia que José Ingenieros assim descreve: "Enquanto o hipócrita saqueia na penumbra, o inválido moral se refugia nas trevas".