As cisternas, feitas de polietileno, foram adquiridas pelo "Ministério da Integração Nacional" ("MIN") como parte da ação do "programa Água para Todos" para "atender as famílias da Região Nordeste". O primeiro lote de 60 mil unidades foi comprado em novembro de 2011 por R$ 210 milhões, através de licitação que teve como única concorrente a empresa mexicana Dalka, que no Brasil tem o nome fantasia de "Acqualimp". A "licitação" foi "realizada" pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que também coordenou os pregões eletrônicos para contratação das empresas responsáveis em instalar as cisternas em oito estados da região Nordeste e em Minas Gerais. Em Pernambuco, a Engecol, sediada em Petrolina, ganhou a concorrência para instalação de 22.679 cisternas.
Somando os valores da compra da cisterna de polietileno e da instalação, cada unidade custou em média R$ 5.090 para os cofres públicos, quase o dobro do preço das cisternas de placa (alvenaria), até então únicas construídas no País por ONGs que recebem apoio financeiro do Governo Federal. Cerca de 500 mil cisternas de placas, que custam em média R$ 2.500, já foram construídas no Brasil. Alegando que, apesar de mais caras, as cisternas de polietileno são mais duráveis, resistentes e, principalmente, "mais rápidas de ser instaladas" - tendo em vista "a urgência" das famílias que enfrentam a seca -, o Ministério da Integração Nacional optou em adotar essa nova tecnologia. O problema é que a "rapidez" prometida pelo órgão não saiu do papel.
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A instalação das 60 mil cisternas de polietileno nos estados nordestinos deveria ter sido concluída no último mês de agosto. Cinco meses depois, a Dalka ainda não concluiu a fabricação e a entrega de todas as unidades, e as empresas contratadas para a instalação estão com serviços atrasados.
A vida um pouco menos difícil que seus pares faz o pequeno agricultor dar de ombros para as cisternas e suas consequências. A primeira delas é fazer parte de uma engrenagem burocrática com governos e associações e seus recorrentes atrasos. "Essas cisternas que prometeram não chegaram aqui, não. É só por meio de associação e não quero, não gosto. Prefiro cavar um poço", explicou.
Ele garante que abaixo da superfície tem bastante água. Por isso, está juntando dinheiro para começar a cavar. O custo é de R$ 3,5 mil. Aí deixaria o açude para quem tem mais necessidade e substituiria a cacimba que nos tempos de bonança abastecia toda a vizinhança. Tão grande que era conhecida por cacimbão pelos moradores. Hoje, um fantasma sem uma gota d"água sequer.