heee, o Sol, o Sol de hoje cedo a 600m do solo, só..
...nas anteriores tem texto, vai lá, e grato por visitar...
ah, bom texto da net:
ARNALDO JABOR (ele é um chato!!)- O Estado de S.Paulo
"O novo carnaval de rua tem algo de ocupação das cidades, de uma fome de democracia muito diferente dos tempos em que as primeiras damas da ditadura davam uns passinhos de samba nos camarotes da Sapucaí. Nos foliões das ruas, há quase um desejo de morrer esmagados, num fervente formigueiro onde todos se sentem um grande "um".
Hoje, as mulheres do carnaval travam uma competição frenética de bundas e seios e eu me pergunto: o que querem elas provar? Querem nos levar para o fundo do mar como sereias, querem destruir nossos lares, querem mostrar que o sexo sem limites resolverá os problemas do Brasil?
Talvez. No carnaval, vemos que nosso inconsciente cultural está à flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo é o recalque. Já imaginaram a cascata de bundas na Suíça?
O carnaval quer transformar a cultura em natureza. As mulheres que flutuam no ar dos desfiles estão além do desejo real. Conquistadas, elas seriam reais. Mas nosso desejo quer tê-las assim: inatingíveis metáforas.
O Ocidente tem o "rock", sem duvida. Mas, em geral, o "rock" fala de uma certa luta transgressiva, de uma pretensa revolta social (hoje, bem falsa) e não da moleza feminina do carnaval.
O carnaval é feminino; o "rock" é de homem.
No carnaval, os homens querem virar mulheres. Todos querem ser tudo: os homens querem ter seios e fecundidade e as mulheres querem ser ágeis e sedutoras máquinas de excitar pênis dançantes. Daí, a importância do travestimento no carnaval, que é um paraíso gay. O mundo macho tem muito a aprender com as mulheres no carnaval, as filhas das mucamas, das escravas lindas com o sonho das estrelas de Hollywood. Aliás, os musicais americanos são próximos do carnaval. Quem inventou as escolas de samba na tela foi o Busby Berkeley.
Nas ruas, estão os blocos dos anjos de cara suja, os blocos das escrotas, o bloco dos vagabundos, dos bêbedos ornamentais, da crioulada pobre.
Essa produção de significados novos só se dá ali, no meio dos excluídos do mundo "clean". Só os sujos são santos. Ali está a surda revolta contra o trabalho desumano e sem amor, o exorcismo da miséria, o prazer de escrachar a beleza óbvia do universo do bom desenho. Pela destruição dessa beleza "limpa", vemos a invasão de uma poesia grotesca que atravessa os séculos desde Brueghel, Bosch, Cervantes, Rabelais, passando por Goya, Ensor e tantos outros, desaguando no barroco brasileiro do caos colorido.
Alguma coisa muito profunda está oculta na loucura desses marginais. Só ali, nas ruas sujas, estão as três raças brasileiras entrelaçadas na esperança da suruba total, de um casamento grupal doido: negros, brancos e índios dando a luz a um grande bebê mestiço e gargalhante que ensine ao mundo que a vida é arte e a lógica careta é a morte."
legal neh