
Onde pus a esperança, as rosas
Murcharam logo.
Na
casa, onde fui habitar,
O jardim, que eu amei por ser
Ali
o melhor lugar,
E por quem essa casa amei -
Decerto o
achei,
E, quando o tive, sem razão para o ter
Onde pus a feição, secou
A fonte logo.
Da floresta,
que fui buscar
Por essa fonte ali tecer
Seu canto de rezar
-
Quando na sombra penetrei,
Só o lugar achei
Da fonte seca, inútil de se ter.
Para quê, pois, afeição, esperança,
Se tê-las sabe a não as
ter?
Que as uso, a causa para as usar,
Se tê-las sabe a
não as ter?
Crer ou amar -
Até à raiz, do peito onde
alberguei
Tais sonhos e os gozei,
O vento arranque e leve
onde quiser
E eu os não possa achar!
(Fernando Pessoa)