GENTE!!! AS JOANINHAS GANHARAM ATÉ REPORTAGEM!!! NÃO PODIA DEIXAR DE POSTAR!!

A RESPORTAGEM TODA É DE FATO MUITO GRANDE, MAS DÊEM UMA OLHADELA POR ALTO, VÃO DESCOBRIR COISAS MUITO LEGAIS DESSAS FOFUXINHAS!!!


Muitos beijos!!!

BRA-064: Lady Joaninha, senhora da sorte
Luiz Figueiredo, Revista Terra da Gente, Campinas, São Paulo - September 2005


Charmosa, simpática e útil. O mundo considera a bem-amada joaninha a rainha dos insetos, portadora de boa sorte e até casamenteira. Na agricultura, é uma ‘pequena grande’ aliada do homem, altamente eficiente no combate às pragas de frutas e verduras

"Joaninha, voa, voa, que o teu pai está em Lisboa...". Esse versinho é parte de uma cantiga bastante popular entre os portugueses. E é só um entre dezenas: muitas outras cantigas, em muitos outros países, também homenageiam essa ‘besourinha’, considerada portadora de boa sorte. Não seria exagero dizer que nove entre dez pessoas no mundo têm uma certa simpatia pelas joaninhas. Elas contrariam um sentimento comum entre as pessoas - urbanas, sobretudo -, de aversão aos insetos. Essa admiração é histórica e tem suas raízes na agricultura. Observadores, sempre atentos aos detalhes que poderiam influenciar suas culturas, cedo os produtores rurais - e também os jardineiros - as perceberam como aliadas no combate natural a pragas muito daninhas para as plantas, como as cochonilhas e os pulgões.

Uma lista de nomes simpáticos confirma, em várias línguas, a boa imagem das joaninhas. Elas são mariquitas, na Espanha e no Peru; chinitas, no Chile; vaquitas, na Argentina; bête a Dieu (bichos de Deus), na França; Marienkafer (besouro de Maria), na Alemanha, e Ladybird (ave da Senhora) ou Ladybug (inseto da Senhora), nos Estados Unidos e na Inglaterra, sendo que, neste caso, o termo Lady, como na Alemanha, também se refere à Nossa Senhora, a Virgem Maria dos cristãos. Esse nome, em particular, remonta à Idade Média. Para livrar suas plantações de um intenso ataque de pragas, os camponeses rezaram para a Virgem Maria, rogando pela salvação. Então surgiram as joaninhas, combateram as pragas, equilibraram a produção. E os camponeses passaram a chamar o inseto de the beetle of Our Lady ou ‘o besouro de Nossa Senhora’.

Em 1888, nos Estados Unidos, a história se repetiu: as joaninhas foram a salvação das plantações de citros do Estado da Califórnia, infestados de pragas. Os pés de laranja e de limão estavam definhando e a saída foi importar joaninhas da Austrália. Em dois anos, restabeleceu-se o equilíbrio biológico e a produção se normalizou. Atualmente, em quase todo o mundo, a utilização das joaninhas no controle biológico é uma prática usual, intensificada desde a década de 70. No Brasil, o interesse dos produtores na aliança com as joaninhas é recente e só depois do ano 2000 começou-se a investir mais em pesquisas e na difusão dessa tecnologia.

As joaninhas são besouros da família Coccinellidae, que possui cerca de 6 mil espécies descritas, grande parte distribuída na região Neotropical - do México até a América do Sul. A família Coccinellidae faz parte da ordem Coleoptera (besouros) dentro da classe Insecta. As espécies de Coleoptera representam mais de 50% da classe Insecta, sendo, portanto, o maior grupo animal em número de espécies. Ao longo de sua evolução conseguiram se adaptar a hábitats muito diferentes e adotar modos de vida muito variados. Poderíamos dizer, portanto, que são símbolos perfeitos da biodiversidade terrestre. Atualmente, temos registro de cerca de 350 mil espécies da ordem Coleoptera, porém muito ainda resta para se conhecer.

A identificação das joaninhas não é difícil. Trata-se de um besouro com o formato de um ‘fusca’: suas asas ficam ‘guardadas’ sob uma ‘capa’ dura, chamada élitro, que geralmente é colorido. O élitro corresponderia à capota curva do ‘fusca’. Tem ainda um pronoto, um pequeno prolongamento do corpo, onde fica a cabeça, com formato semelhante ao porta-malas frontal do carro. E não se pode esquecer das antenas curtas e grossas, sua marca registrada.

As cores das joaninhas variam bastante, de região para região. Predominam o vermelho, o laranja e o amarelo, combinados com pintas pretas: duas, quatro, oito, distribuídas de forma simétrica. Cores vistosas que, no reino animal, costumam ser indicativo de ‘veneno’ ou ‘gosto ruim’. No caso delas, a cor é uma estratégia de defesa, um aviso aos potenciais predadores, sejam aves ou anfíbios, ou répteis ou pequenos mamíferos. As joaninhas são capazes de liberar uma espécie de líquido amarelo (hemolinfa, o ‘sangue’ de insetos) com substâncias tóxicas, de gosto e cheiro desagradáveis. Para o homem, que não se alimenta da ‘besourinha’, não oferecem risco.

Quanto aos hábitos alimentares, cerca de 90% das espécies são carnívoras e predadoras vorazes, ou seja, alimentam-se de outros pequenos animais - insetos e ácaros, sobretudo -, capturando-os com muita eficiência e em grande quantidade. As 10% restantes são herbívoras, isto é, alimentam-se de vegetais e, em alguns casos, podem também se transformar em pragas das plantações, hortas e jardins. Essas joaninhas ‘comedoras de vegetais’ pertencem a uma única subfamília - Epilachninae - representada, no Brasil, pelas diversas espécies do gênero Epilachna. Atacam folhas de chuchu, melancia, pepino, abóbora, todas plantas cultivadas das famílias Cucurbitaceae e Solanaceae. E há, ainda, umas poucas representantes de joaninhas fungívoras ou micófagas, ou seja, que se alimentam de fungos.

Carnívoras ou herbívoras, aliadas ou inimigas, as joaninhas têm um ciclo de vida marcado por mutações, como qualquer inseto. As fêmeas adultas colocam seus ovos em ambientes infestados por suas presas, onde os filhotes encontrarão abundância de alimento. As ninfas eclodem em seis dias. O número de estágios larvais depende da espécie, quatro no máximo. Cada estágio dura, em média, dezessete dias. Durante esse período, as larvas se alimentam de ovos, outras larvas e líquidos produzidos pelas presas. Os adultos emergem das pupas em dez dias e vivem até quatro meses. Logo depois de emergir, em quatro dias, a fêmea já é adulta e dá início a um novo ciclo de postura. Cada joaninha fêmea é capaz de produzir cerca de 500 ovos durante toda sua vida adulta.

Como tudo na natureza, a joaninha que beneficia também pode desequilibrar a relação entre espécies, seja nas áreas cultivadas ou nos ecossistemas. Espécies acidental ou propositadamente introduzidas podem se tornar invasoras, e mesmo espécies nativas podem proliferar sem controle devido a alterações nas condições de seu hábitat. Já existem casos de descontrole biológico envolvendo joaninhas, tanto no Brasil como em outras partes do mundo.

Aqui, pesquisadores do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná estudam aspectos do comportamento da joaninha Harmonia axyridis para encontrar meios de controlar suas populações. Sob a coordenação da pesquisadora e professora Lúcia Massutti de Almeida, estudantes da pós-graduação em Entomologia pesquisam a espécie, de origem asiática, utilizada no controle biológico de pulgões que atacam plantações de noz pecan, alfafa, algodão, tabaco e mudas de plantas ornamentais. Na Ásia, é considerada uma excelente agente de controle biológico. Na China, é um dos principais predadores de afídeos (parasitas de vegetais) do algodão. Nos Estados Unidos, foi deliberadamente levada para Delaware, Georgia e Washington, para controle de pulgões, porém aparentemente não se estabeleceu.

O problema é que, nos países neotropicais, a par dos benefícios a culturas, essa joaninha tem desalojado espécies nativas, com as quais compete por alimento e hábitat. Além disso, onde é mais frio, causa desconforto aos moradores próximos das áreas agrícolas, pois invade as casas em grande número durante o outono e o inverno, para se proteger das baixas temperaturas. Acaba pousando nos alimentos e importunando as pessoas.

Na Argentina, a espécie foi detectada pela primeira vez no final de 2001, em árvores de noz pecan, desconhecendo-se sua procedência, já que não houve introdução oficial. No Brasil, em Curitiba, Paraná, o primeiro registro de suas larvas é de abril de 2002. Elas estavam se alimentando de uma espécie de pulgão nas extremosas (Lagerstroemia indica), uma espécie de árvore muito utilizada no paisagismo urbano daquela cidade. Logo em seguida foram coletados também larvas e adultos, atacando pulgões em plantações de pinheiros (Pinus spp.)."Antigamente o controle biológico era feito de maneira intuitiva. Hoje os pesquisadores desenvolvem modelos matemáticos para descrever o comportamento dos agentes de controle biológico a serem utilizados. De posse desse tipo de conhecimento, você passa a fazer um controle mais natural, com um organismo predando o outro, mas sem afetar o meio ambiente", diz Lúcia.

Recentemente, o pesquisador japonês Sussumo Nakano, da Universidade de Hiroshima, identificou algumas plantas hospedeiras de espécies de joaninhas. São plantas nativas, nas quais as joaninhas passam parte de seu ciclo de vida. As hospedeiras garantem sua sobrevivência nos período em que as áreas de cultivo são renovadas ou quando as culturas não estão infestadas pelos insetos e ácaros dos quais as joaninhas se alimentam. Nakano descobriu duas dessas novas espécies vegetais hospedeiras na Serra do Japi, em Jundiaí, no interior paulista. No caso, as plantas abrigam joaninhas herbívoras.

"Todo dono de uma área de terra deveria manter uma reserva de vegetação natural, principalmente de matas ciliares. Elas atraem joaninhas e outros insetos úteis, melhoram o controle biológico e, consequentemente, a produção da propriedade”, indica o pesquisador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), João Vasconcellos Neto, especialista em interações insetos-plantas. Nas cidades, as joaninhas também são agentes biológicos importantes. A espécie Cycloneda sanguinea, por exemplo, é das mais comuns, tem distribuição cosmopolita (em todo o mundo), sendo encontrada nos jardins, hortas e florestas.

E para evitar que as pequenas aliadas do homem se transformem em pragas, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, no interior do Estado de São Paulo, inspecionam todo o material que entra no país. Para barrar introduções desnecessárias e sem critério, ali se criou o Laboratório de Quarentena Costa Lima, o único laboratório nacional para a introdução de agentes de controle biológico credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Nele realizam-se todos os procedimentos de limpeza, identificação e liberação dos organismos provenientes das importações e exportações para fins de controle biológico, dentre outras atividades.

A joaninha Cryptolaemus montrouzieri, super predadora da cochonilha branca (Planococcus citri) dos citros, foi importada do Chile pelo Laboratório de Quarentena e, depois de aprovada, passou a ser reproduzida no laboratório comercial Gravena, especializado na produção de predadores biológicos.

Com essa espécie, um produtor de limão do Piauí conseguiu se livrar da cochonilha branca e obteve o selo de qualidade de exportação para o mercado europeu. O produtor recebeu duas mil joaninhas e contou com acompanhamento técnico de manejo por um período de três anos, substituindo totalmente o uso de venenos químicos, que além de oferecerem risco de contaminação, são ineficientes no controle da praga, pois a grossa camada cerosa do corpo da cochonilha a protege.

Ainda faltam pesquisas com joaninhas nativas que, tanto quanto as importadas, certamente podem auxiliar o homem no controle biológico. "Com a joaninha, a tendência é o produtor não ter mais problemas na produção. Ela é benéfica no equilíbrio biológico das plantas. E o importante é reduzir o uso de inseticida, que mata outras espécies essenciais nesse processo", comenta o engenheiro agrônomo e diretor do laboratório comercial, Santin Gravena. “A falta de conhecimento dos produtores sobre a utilização das joaninhas ainda é a maior ’praga’ para o desenvolvimento desse método”. E cita a Espanha, onde a produção de joaninhas com finalidade de controle biológico na agricultura é feita pelo próprio governo, que distribui lotes anuais para as mais diversas culturas.

No Brasil, o maior interesse é dos citricultores, mas só surgiu após os surtos elevados da cochonilha branca, ocorridos em 2001 e 2002. Até então considerada uma praga secundária, nos pomares brasileiros, essa cochonilha proliferou exageradamente a partir de múltiplas aplicações de inseticidas e fungicidas, destinadas ao combate de outros insetos e ácaros, mas que provocaram desequilíbrios. Os especialistas da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus) aí descobriram nas joaninhas colaboradoras preciosas, capazes de ajudá-los a defender milhares de empregos e bilhões de reais em exportações.

Representante do setor produtor e exportador de suco concentrado de laranja do Brasil, a entidade congrega 10 indústrias e 29 mil propriedades rurais paulistas, responsáveis por 98% da produção nacional. Todo o setor emprega diretamente cerca de 400 mil pessoas e é atividade econômica essencial para 331 municípios, além de gerar divisas da ordem de US$ 1,5 bilhão por ano. Parece desproporcional que tamanho ‘gigante’ possa valorizar a parceria com um pequeno besouro. Mas esse é mais um exemplo que traduz, de forma clara, a importância de entender e saber conservar a nossa rica biodiversidade: quando menos esperamos, podemos precisar dela!

NEM TUDO QUE TEM PINTAS É JOANINHA

Muitas outras famílias de besouros, bem distintas da Coccinellidae, pegam ‘carona’ nas cores e formas das joaninhas, na tentativa de afastar inimigos naturais. Como acontece com serpentes e taturanas, elas têm seus padrões copiados por uma legião de imitadores, interessados em lançar o mesmo sinal de alerta aos predadores - “ei, não me coma, sou tóxica” - mesmo que, de fato, não produzam as substâncias de gosto e cheiro ruins. A isso tecnicamente se chama de mimetismo. Além desses imitadores ‘baratos’, há espécies parecidas com as joaninhas que também são capazes de produzir suas substâncias ‘afasta-predador’, caso de várias espécies comumente chamadas de vaquinhas, cujo corpo é mais alongado, e da maria-fedida, da família Pentatomidae, que ganhou esse apelido popular porque exala um cheiro desagradável ao menor toque. Diferente das joaninhas, as maria-fedidas estão entre os raros insetos que cuidam da prole, após a eclosão dos ovos (foto). Uma prole tão mal-cheirosa quanto seus progenitores, é bom lembrar. Quando inspecionar seu jardim, portanto, atenção redobrada: nem todas as cores vivas, nem todas as pintas são identificações certeiras de nossas bem-amadas joaninhas.

LENDAS E CRENÇAS PELO MUNDO

Quase todas as culturas das regiões onde ocorrem joaninhas atribuem ao pequeno besouro uma aura de sorte. Conheça algumas das lendas e crenças a elas associadas:

Matar uma joaninha pode trazer azar e tristeza.
Se uma joaninha pousar em você e depois voar, levará com ela suas aflições (França).
Se uma joaninha é mantida na mão enquanto se faz um desejo, a direção para a qual ela voar, em seguida, é onde se deve tentar a sorte.
Se uma joaninha tem mais de sete pintas, trará fome, se forem menos de sete, a colheita será boa.
Se na primavera há muitas joaninhas voando, a colheita daquele ano será boa (Estados Unidos).
As joaninhas trazem bom tempo (Bretanha).
Se uma joaninha andar pela mão de uma jovem, ela se casará naquele ano (Bélgica).
As joaninhas levam os bebês para seus pais (Suíça)
As pintas nas costas da joaninha indicam o número de filhos destinados à pessoa em cuja mão ela pousar (Bruxelas).
As joaninhas podem entender a fala humana, pois foram abençoadas por Deus (Ásia).
Se uma joaninha pousa na sua mão, você ganhará um par de luvas; se pousar na cabeça, ganhará um novo chapéu (Grã Bretanha, na Era Vitoriana).
Se uma joaninha pousa na sua mão ao entrar em casa, conte as pintas e esse será o montante de dinheiro que você ganhará em breve.
No século 19, alguns médicos acreditavam que joaninhas curavam sarampo e dentistas usavam joaninhas esmagadas em cáries para aliviar a dor.
Se um homem e uma mulher virem uma joaninha ao mesmo tempo, haverá romance entre eles (Noruega).


PARA SABER MAIS

Sociedade Brasileira de Entomologia -

Os Insetos do Brasil -

Lúcia Massuti de Almeida - lalmeida@ufpr.br
Departamento de Zoologia UFPR -

Laboratório Gravena - Manejo Ecológico e Controle Biológico de Pragas Ltda. - Rodovia SP-253, Km 221,5 (Jaboticabal-Luiz Antônio), Caixa Postal 546 -