Vendo uma reportagem, sobre uma Cidade que está perdendo sua identidade, um senhor dono de uma banca de rua foi questionado: E como o senhor resiste? E sem demorar, ele respondeu: É uma questão de teimosia! Na calçada, entre o ônibus e passos apressados, esse senhor me mostrou a teimosia, estando eu tomando café sozinha vendo tv. É uma questão de teimosia, e aquilo me atravessou, como quem escuta uma prece antiga, teimosia, não como defeito, mas como uma herança. Como quem planta os pés no chão e diz: Daqui eu não saio! Resistir às vezes é isso, vender revista no mundo de tela, permanecer quando tudo ao redor pede pressa, manter o sotaque mesmo quando a Cidade desaprende a escutar, acender a luz da banca antes do sol acordar, só pra provar que ainda existe poesia. A Cidade pode esquecer, pode tentar silenciar os pequenos, mas sempre vai ter alguém teimoso bastante pra lembrar, alguém que vai guardar a alma da rua entre gestos que ninguém mais vê, entre o café quente que segura o mundo por mais um dia. E eu fico pensando, que a história talvez seja feita disso mesmo, de gente que teima em existir, de bancas que resistem como faróis e de velhos poetas anônimos que sem saber, seguram o tempo com as próprias mãos.
— .(Escrito dia 18/05/2025, às 21:05).